quarta-feira, 29 de novembro de 2023

Sobre o Mantra da Plenitude

    



 Hoje comecei uma turma nova de Yoga. E no início de qualquer novo grupo costumo contextualizar brevemente o Yoga e a prática que iremos começar. Explico sobre as posturas, os exercícios respiratórios, a dinâmica da prática  e como sempre iniciamos e finalizamos com os mantras.  

    Portanto, na explicação aos alunos  sobre o mantra cantado ao final, que é chamado o Mantra da Plenitude refleti alguns segundos sobre ele. 

Om Purnamadah Purnamidam

Purnaat Purnamudachyate

Purnasya purnamadaya

Puranamevavashishyate

Om Shanti Shanti Shanti


Isto é perfeito, aquilo é perfeito

O que vem da perfeição é perfeito

O que fica depois da perfeição é perfeito.

Se o perfeito for retirado da perfeição

Que haja paz, paz, paz

    Apesar da profundidade do mantra tentei explicar suscintamente aos alunos que esse mantra se relaciona com os acontecimentos da vida e que independente dos eventos bons ou ruins que ocorrem conosco, existe uma ordem perfeita no universo onde esses acontecimentos se acomodam. Muitas vezes não compreendemos ou enxergamos o porquê das coisas mas que deveríamos ter confiança pois como o mantra diz: Isso é perfeito, aquilo é perfeito. O que fica depois da perfeição é perfeita. Portanto, tudo é perfeito.

     Gostava sempre de comparar esse mantra com a oração do Pai Nosso, sobretudo no trecho onde se diz " Seja feita Sua vontade assim na terra como nos céus " Pela questão da fé e da entrega a Deus, na sua infinita perfeição e no nosso limitado conhecimento sobre os eventos do universo e o porquê somos cometidos com as mais diferentes situações, sejam elas adversas ou não. Essa oração ensinada por Jesus Cristo, nos ensina a entregar em paz nossa vida , nosso destino a Deus e aceitar todas as coisas como sendo apenas a vontade Dele. Há um dito popular cristão que diz  " nenhuma folha cai sem a permissão de Deus ". Ora , se tudo é vontade de Deus, não temos muito o que fazer a não ser acreditar em sua incompreensível perfeição em todo o universo e em todas as Suas ações.

    A oração do Pai Nosso se encontra com o Mantra da Plenitude onde ambos os textos nos apontam para uma confiança em que todas as coisas que acontecem em nossas vidas devem ser aceitas em paz e na esperança que independentes de boas ou más , elas são perfeitas e apropriadas para cada situação e momento de nossa vidas.  Por outro lado, é  pedir muito que nós, seres humanos, possamos aceitar ou ter fé que mesmo eventos ruins e difíceis de encarar possam ser perfeitos e apropriados para nós. Como olhar para tudo que acontece em nossas vidas sendo perfeitas ? Não é fácil ou mesmo posso dizer que é quase impossível aceitar todas as coisas como perfeitas. Talvez algumas pouquíssimas pessoas consigam. 

    No entanto, acredito que o tanto o pai nosso como o Mantra da Plenitude precisam ser lidos e aceitos como além do bem e do mal, além do prazer e da dor, ou resumindo em sânscrito : Sukha / Dukha. Quando lemos no Mantra da Plenitude que tudo é perfeito, precisamos ir além da compreensão pura das palavras. É preciso olhar o texto não apenas como uma aceitação objetiva dos fatos e nos resignarmos com eles.  Quando o mantra é  compreendido e aceito em seu sentido além das palavras ou em seu sentido último, percebemos que na verdade todos os eventos são perfeitos porque todos os acontecimentos, sejam eles bons ou ruins são experienciados por alguém que não enxerga mais a dualidade da vida. Os opostos como a dor e o prazer , o bom e o ruim não existem mais para quem consegue vivenciar a totalidade do universo e compreende a sua ordem. Não existe mais o eu e o ele. Tudo é um. E portanto, todos os atos e acontecimentos apenas são.  Logicamente, essa compreensão e experienciação não são fáceis. Essas são as metas do Yoga e outras tradições de ensinamento. É a  compreensão que Atman e Brahman são um. Como diria o sábio do Advaita Vedanta :  Tu és aquilo. É ver que os fatos, experiências são apenas agradáveis ou desagradáveis quando nos identificamos com o corpo e a mente. Quando essa identificação com corpo e a mente são rompidas,  existe apenas a Consciência. E para a Consciência que é o todo perfeito, não existe dualidade ou oposição, o que sobre é apenas a perfeição.

                                     





quinta-feira, 9 de setembro de 2021

     Em lembrança ao nascimento de Krishna, eu e meus alunos combinamos de no último sábado de agosto de 2021, de lermos algum trecho da Gita e explicar aos demais. A Bhagavad Gita contém a síntese dos ensinamentos de Krishna e pode ser considerado um dos livros mais importantes da espiritualidade humana. Neste livro em forma de diálogo Arjuna, o melhor dos guerreiros, se encontra em um campo de batalha e assolado pela dúvida e pelo desânimo em ter que enfrentar e destruir seus próprios primos, indaga Krishna sobre uma série de questões que o afligem e refletem muitas das aspirações humanas sobre a existência e a busca pela felicidade e pela liberação final.  

    Fizemos o mantra habitual, meditamos por 10 minutos e cada um falou sobre o que entendeu do livro e explicou para os outros. Eu expliquei rapidamente sobre o capítulo XIII. Neste capítulo Krishna explica a Arjuna as 20 qualidades que a mente deve ter para que alguém esteja apto ou tenha a habilidade de poder compreender a Deus.  

    Que possamos ter uma mente pura e apta para o entendimento de Deus


sexta-feira, 6 de agosto de 2021

 


O  Sofá

Hoje um amigo me falou que na casa dos seus sogros onde ele está momentaneamente residindo existe um sofá . Um sofá muito bonito mas que ninguém pode sentar. O móvel, disse ele, está na sala apenas para decorar.  É uma sala bem apresentada mas, como no sofá ninguém senta, deve ser um local de passagem, onde ninguém conversa ou interage. Assim acontece com tantos outros objetos que acumulamos com o tempo e perdem sua utilidade quando apenas os guardamos para fazê-los durar mais do que o próprio comprador dos objetos. E aí está uma pequena contradição do cotidiano. Compramos móveis e objetos variados, cuidamos, zelamos,  passamos horas trabalhando para poder pagá-los e às vezes sequer os usamos. Porém, o paradoxo ,de fato, se revela nessa dicotomia entre a suposta perenidade que atribuímos aos objetos e nossa efêmera vida na Terra. Damos tanta importância ao cuidado para com um sofá que esquecemos de quem irá sentar nele. E assim, passamos a observar se o sofá tem poeira e não ligamos se quem se sentou  ali estava confortável. Vemos se o sofá está com algum pelo mas não se a pessoa que se acomodou ali passou momentos felizes ao nosso lado. Procuramos sujeira onde não existe mas não damos importância a quem chegou cansado e quis apenas relaxar por uns minutos. Pelo contrário questionamos se seus pés estavam sujos ao invés de perguntar se seu coração estava leve.

domingo, 30 de maio de 2021

                                             Pratassmaraṇam, o Mantra Matinal

Oṁ. Nos primeiros momentos do meu dia, medito na Consciência que brilha eternamente na minha inteligência. Medito Naquele que é Existência, Consciência, Plenitude, que é buscado por todos. Medito sobre a Consciência que brilha constantemente na vigília, no sono e no sono profundo. Ela é o ilimitado Brahman , que sou eu, pois eu não sou este conjunto de elementos materiais. || 1 ||


De manhã, medito no Eterno, naquele que não cabe em palavras, naquele que manifesta todas as palavras através de suas bênçãos, naquele que os Vedas descrevem como neti, neti! (“nem isto, nem aquilo“). Naquele que é chamado o Primevo, o Senhor dos devas, o Não-nascido, o Imutável. || 2 ||

 

Cedo, medito no Ilimitado, naquele que está mais além da escuridão e que brilha como o Sol, aquele que é a base imutável, e que é conhecido como o Supremo, dentro de quem o Universo se revela em formas limitadas, assim como a serpente aparenta ser a corda. || 3 ||

 


    Ontem, 29 de maio de 2021, eu e meus alunos depois da prática de Yoga, lemos e comentamos o mantra acima.  Texto atribuído a Shankara, que tem seu nascimento comemorado em maio. Em homenagem ao sábio do Advaita Vedanta, meditamos em suas palavras. 

Om ! Paz, paz, paz !

 

sábado, 10 de abril de 2021

 Entre os meses de março e abril é comemorado o Ramanavami. Essa festividade comemora o nascimento de Rama. Rama é o sétimo avatar do deus Vishnu e simboliza a personificação do Dharma ! Ele simboliza tudo o que é correto, justo e verdadeiro. A estória de Rama é contada no épico Ramayana. Nesta obra o avatar de Vishnu deveria ser coroado o rei de Ayodhya ( cidade ainda existente na Índia) mas, na véspera da coroação, Rama é exilado pelo próprio pai.Sita a esposa de Rama acompanha o marido durante o exílio mas, é sequestrada pelo demônio Ravana. Toda a estória desse épico fala das proezas de Rama e de como ele consegue salvar Sita, do demônio Ravana retirando-a da atual ilha de Sri Lanka, com a ajuda do seu fiel servo e amigo Hanumam, o deus macado.

 Rama simboliza o pai perfeito, o amigo perfeito, o irmão perfeito, o marido perfeito. Tudo em Rama é prefeito. Não é a toa que ele simboliza o Dharma, ou melhor a ordem do universo e tudo que é correto, perfeito e belo. Neste mês, em homenagem a Rama, é auspicioso como uma forma de Sadhana, ou prática espiritual, falar apenas a verdade e o que for agradável. É possível também repetir o mantra de Rama : Om śrī rāmāya namaḥ ou ainda preencher com o nome de Rama um pequeno caderno novo e todos os dias escrever um pouco.





sábado, 13 de março de 2021

Abster-se da crueldade é o Dharma mais elevado.
Abster-se da crueldade é o mais elevado autocontrole.
Abster-se da crueldade é o mais elevado presente.

Abster-se de crueldade é a mais elevada austeridade.
Abster-se de crueldade é o mais elevado sacrifício.
Abster-se de crueldade é o mais elevado poder.
Abster-se de crueldade é o mais elevado amigo.

Abster-se de crueldade é a mais elevada felicidade.
Abster-se de crueldade é a mais elevada verdade.
Abster-se de crueldade é a mais elevada revelação.


Mahabhārata, XIII:117.37-39





Sobre o Mantra da Plenitude

        Hoje comecei uma turma nova de Yoga. E no início de qualquer novo grupo costumo contextualizar brevemente o Yoga e a prática que ire...